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Abreu edited this page 2021-08-13 02:15:19 +00:00

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Manifesto

O homem
De virtuosa alma não comanda, nem obedece.
Poder, como uma peste desoladora,
Polui a tudo que toca, e obediência,
Nega toda genialidade, virtude, liberdade, e verdade.
Faz de homens escravos, e do seu corpo
uma máquina.

- Percy Bysshe Shelley

Quem somos

O Paradigma é um coletivo hacker dedicado à pesquisa, desenvolvimento e aplicação de técnicas e tecnologias diversas para o fim de construir uma sociedade mais justa. Buscamos nos associar à demais organizações populares enquanto, ainda assim, sempre agindo de maneira autônoma.

O que fazemos

Nos aprimoramos tecnicamente modificando sistemas tecnológicos para melhor corresponderem às nossas necessidades e, por vezes, pelo mero desafio intelectual. Por isso utilizamos o termo hacker fazendo referência a uma subcultura que, ainda na década de 1960, começou a popularizar esse termo para definir pessoas que compartilham deste mesmo objetivo e o perseguem de maneira autônoma e espontânea. Ou seja, trata-se de uma concepção da palavra que é muito mais ampla e distinta ao que sua atual conotação pejorativa para aquele que faz uso de vulnerabilidades de segurança em sistemas de computadores para fins maliciosos.

Aliás, sequer envolve fins alcançados exclusivamente com o uso da informática. Para citar alguns exemplos que cabem no critério de hack mas não necessariamente envolvem o uso de computadores, podemos listar: a permacultura, a cultura punk, o DIY (Do It Yourself, traduzindo, "Faça Você Mesmo"). Portanto, práticas condutivas ao exercício e difusão da técnica, conduzida de maneira autônoma por pelos próprios participantes.

Por que fazemos

O mundo não está avançando mas, guiado por um autoritarismo crescente, galopando rumo à uma condição de degradação insustentável. Ferramentas criadas para nos dar abundância, agora nos trazem devastação. Tomemos a internet como exemplo: esta que haveria de ser um instrumento para a expansão desinibida da consciência humana é agora em larga medida um mecanismo automatizado para sua constante vigilância e desinformação.

Como isso veio a ser?

Nossa sociedade opera sobre uma estrutura em grande parte concebida durante a Revolução Industrial. Esta estrutura tem como elemento central o conceito de hierarquia burocrática. Isto é, a ideia de que para se coordenar um grande número de pessoas de maneira eficiente, faz-se necessário organizá-las em uma hierarquia, centralizada em torno de burocracias.

Uma hierarquia é uma organização piramidal onde ações são tomadas pela base sob níveis de supervisão e gerência. Informações são repassadas para cima na hierarquia e comandos são repassados para baixo. Até que no topo uma minoria, ou mesmo um único indivíduo, possua controle majoritário sobre todas as decisões estratégicas. Enquanto uma burocracia é uma estrutura administrativa constituída em torno de departamentos, grupos de pessoas especializadas na realização de um conjunto de tarefas de maneira regrada e preestabelecida por supervisores.

Graças à avanços tecnológicos que se sucederam, tornamo-nos capazes de comunicarmo-nos à longas distâncias rapidamente, assim como radicalmente modificar o nosso ambiente. E, por consequência, também a nossa sociedade. Novas burocracias foram criadas e difundidas como o instrumento para se gerenciar estas mudanças. Hierarquias acentuaram-se e consolidaram-se em organizações cada vez mais expansivas como, por exemplo, a Organização das Nações Unidas, a União Europeia, e corporações transnacionais associadas à interesses governamentais.

E qual o problema nisso?

Hierarquias fracassam como estruturas para a resolução de problemas sociais. Eventualmente, elas não conseguem absorver o volume de informações, não conseguem tomar decisões com a frequência ou o contexto adequado e, o pior de tudo, tornam-se elas próprias obstáculos para a resolução dos problemas aos quais se pretendem resolver.

Isso porque quando informação e poder se concentram em um número cada vez menor de indivíduos, gradualmente torna-se impossível para estes terem o tempo hábil para tomar o número de decisões exigido, com o julgamento adequado, para se resolver os problemas que são postos. Para se evitar que tal estrutura se fragmente, recorre-se à subterfúgios como filtrar ou segmentar informações recebidas, priorizar a realização de algumas decisões sobre outras. Levando, assim, a decisões em alguma medida desprovidas do contexto em que se aplicam, isso quando não são descartadas em função de deliberações mais interessantes à liderança da organização.

E isso tende a se agravar em função da escala da organização: quanto mais uma organização hierárquica cresce, mais poderosos aqueles no topo se tornam, mais distantes estes ficam das consequências de suas decisões, mais complexas e numerosas se tornam as decisões à serem tomadas.

Também, a hierarquia deriva seu poder na disposição ou necessidade, real ou imaginada, que aqueles abaixo tem de acatar as decisões daqueles acima. Ou seja, a hierarquia se sustenta conforme aqueles que à ela são sujeitos permanecem à ela dependentes. Ela se mantém enquanto houver desigualdade, segregação entre governantes e governados. Isso gera um conflito de interesses: aos governantes há um incentivo estrutural a optar por soluções que não prejudiquem sua prerrogativa de poder. Isto é, soluções paliativas, quando não, negativas.

Assim sendo, esta solução evolui no sentido de ser ela própria problemática e precisa dar lugar a outra forma de organização mais adequada à atender os interesses de todos.

Para que fazemos

Para através da tecnologia e da técnica provermos o subsídio funcional à construção de organizações não-hierárquicas, ou seja, descentralizadas e interligadas em redes de apoio mútuo. À saber, organizações de base ou livre associação. Entendemos que essa é a única forma de organização verdadeiramente condutiva ao desenvolvimento capacidade de resolução de problemas de cada um dos seus participantes, isto é, sua autonomia.

Entendemos que sequer sugerir a necessidade de depositar nossa confiança e esforços sob a tutela de mais outra liderança é propor uma solução fantasiosa. É não sanar a raiz do problema que fundamentalmente é a dependência e consequente vulnerabilidade de cada qual perante tal forma de organização.

Como fazemos

Utilizamos e desenvolvemos Software Livre, uma ferramenta construída sob a condição de livre associação e cuja manutenção fomenta essa mesma forma de convívio. Não obstante, nossa demanda por formas de organização descentralizadas não se restringe à aquelas com quem nos relacionamos, mas se aplica especialmente à nossa. Para tal, nos orientamos em torno de princípios éticos que são de interesse a todos que buscam participar na realização deste objetivo. Estes fundamentam a construção do nosso Código de Conduta:

Equidade

Juntos podemos alcançar feitos os quais jamais conseguiríamos por conta própria. Para alcançar tal unidade, buscamos um patamar de condições que permita à maioria daqueles envolvidos, senão à todos, a oportunidade de participar e contribuir conforme sua competência e em toda sua capacidade. Fazemos isso gerenciando nossos recursos em compromissos assumidos de maneira democrática e proporcional, em assembleias abertas e periódicas, com o objetivo de atender às necessidades específicas à cada qual.

Liberdade

Imprescindível para o desenvolvimento da capacidade intelectual e criativa de cada ser humano, é a liberdade. Como participantes em uma comunidade egalitária, entendemos que a ampliação da liberdade de todos é a maneira mais coerente, e portanto eficiente, de resguardar a liberdade individual. Logo, nunca impomos uma demanda por permissão ou obrigação. Embora determinados em momentos possamos vir a recomendar isto a depender do contexto, isto nunca é tida como sendo a norma. A norma à de ser: experimentar, pensar e agir por conta própria.

Solidariedade

Recepcionamos e auxiliamos à todos em nossa comunidade da melhor maneira possível. Demonstramos pelo exemplo, e pontamos qualquer tratamento aquém disso. Queremos com esta atitude proativa de solidariedade produzir consistentemente uma condição de liberdade e equidade. Acreditamos que, se pelos nossos atos restringimos a participação de alguns, estamos privando a todos de conceber o mundo em sua complexidade e completude. E tão logo, estamos privando nós mesmos de soluções as quais jamais poderíamos conceber sozinhos.